Há dias e dias...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O sonho

Dias cinzas, noites negras, sonhos? Que sonhos? Quando fecho meus olhos tudo o que vejo é a escuridão espessa do sono. Como se não bastasse, em um piscar a madrugada se vai e as poucas horas que disponho parecem voar. Uma, duas, três vezes o despertador toca; não o escuto, não me levanto; somente com o quarto dispertar estrondoroso do despertador maior e escandaloso me forço a levantar, mas não para acordar, pois esta é consequência, me levanto para desesperadamente calar aquele barulho que escorre por toda a casa, que fere os ouvidos, que rasga a serenidade pesada do sono mal consumido.
Sofrivelmente lavo meu rosto com a água fria, se não gélida. Sinto que meus olhos não querem se abrir, pois não gostam do que vêm e também sabem que depois do despertar o sono vai demorar a retornar.
Aperto fortemente o rosto contra a toalha ainda úmida do banho do dia anterior. Contudo não me apresso em voltar ao quarto para me trocar, não. Pelo contrário, me deixo ficar suspensa naquele ambiente vaporizado, denso, sufocante. Talvez tenha esperança de que o desespero me disperte.
Finalmente coloco o padrão em meu corpo e arrasto minhas pernas até a cozinha. Sempre o mesmo copo de café mas nunca a certeza do que forçosamente comer. Afinal, não tenho fome quando acordo, mas como algo para não ter que depois comprar o que me alimente em sala de aula. Aah... Que tristeza pensar.
A rotina continua e continua e continua... Persistente... irritante.
Piso na escola. As mesmas pessoas, os mesmos sorrisos, as mesmas ilusões, as mesmas intensões, as mesmas dores, os mesmos tédios! Tudo tão pálido quanto o orvalho da manhã. Quanto desgosto há em ver as opiniões formadas, as alienações flagradas e as imposições forçadas. Quanto vazio em perceber que tudo aquilo não passa de um circo. No palco os professores tentam dar o exemplo de como se faz. No público os alunos, como animais, bossais, fingidos tentam absorver tudo; mas tanto há para entender que pouco resta para pensar.
Mentes vazias, insensatas, alienadas... Como eu? Como você? Nossa vida talvez não passe de um jogo de alucinações! Gente bastarda, gente hipócrita, gente rica? Não sei se todos, mas não posso garantir. Mal tenho certeza do que sou, como posso julgar quem são os outros? Existe prova maior do que esse simples flagrante de ignorância?
Riam de mim, falem de mim pelas costas, me critiquem, me traiam... E desconfiem de que não sou nada e que da mesma maneira vocês também não são. Afinal, quem você é? Quanta gente no mundo não está a andar mascarada? Por que você seria diferente? Adimita individuo, você é só mais um.
Enfim bate o sinal das uma e cinquênta e cinco (afinal se fosse as duas horas seria muito tempo de aula, é a mesma lógica do R$1,99). É hora de almoçar, mas almoçar o que? Ser estorquida pelos estabelecimentos por uma comida mais saldável ou comer um lanche e morrer um dia de ataque-cardiaco? Ah resposta é obvia, o lanche; lógica simples do capital.
Vou ressalvar um fato, apesar de tudo é nessa hora, a única hora em que mesmo que por alguns instantes posso parar, olhar o céu, invejar aquela paz e então sorrir.
E depois vem a tarde atropelada pela necessidade compulsiva e imediata de estudar. Um a um os "imperativos" surgem na cabeça; eu tenho, eu devo, eu preciso, eu vou, eu posso. No final, passamos mais tempo tentando decidir do que agindo de fato.
O dia está acabando. Você sente que não fez nada, se sente vazio, se sente igual. Não há transformações. O vazio, o vazio que ecoa no âmago de cada um de nós.
Finalmente a noite vem. Mas, pelomenos a mim, quantas vezes ela não mostrou sua faça mais obscura e mórbida. Chegar em casa e ver o mundo cansado. Muito me dói chegar em casa e perceber que a primeira coisa que ouço são os berros de minha mãe a reclamar da vida, dos filhos, de si mesma, dos outros, do dinheiro, de tudo. E o quanto me fere adentrar no que chamamos de "casa"e ver as contradições? Afinal, o que mais me causa dor é perceber o caos, o caos em toda parte.
A vida é injusta e ela nunca escondeu esse fato, mas por que? Por que dinheiro? Por que ela trás tanta tristeza para uma família? Quantas preoculpações! Dívidas! Privações??? Não espero que muitos de minha escola me entendam e não espero que eu entenda.
Querem saber a verdade? Eu odeio esse ano, odeio. Queria voltar 2 anos atrás! Só dois anos e lá permanecer como o Peter Pan. Aah vida maldita, vida ingrada, vida sangrenta, vida injusta, vida es-far-ra-pa-da! De nada adianta se arrepender.
Enquanto isso tranquilamente a hora passa. A madrugada fria trás a sensação última. As altas horas da noite nos dão o fim, nos dão a morte, a morte que vem tarde, lenta, fria, forte, nua. Os olhos fecham cansados e sofridos ao mesmo tempo que lacrimejam a breve felicidade de poder descansar. O sono vem sereno, mas o sonho já não vem; a morte vem descreta mas o quarto despertador toca antes.