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domingo, 8 de abril de 2012

Ensaio


Vou postar aqui o ensaio que fiz para a faculdade. Como primeira experiência com esse tipo de texto eu realmente não estou segura de que tenha feito certo. Tomara que meu texto seja inteligível e que não possua muitos erros ortográficos e gramáticos.

Separar a história e a geografia de uma crítica arquitetônica?

Quando observamos uma obra artística procuramos valores, sejam eles positivos ou negativos, que nos chamam a atenção. Esta simples procura já é um ato crítico, pois há uma hierarquização, a partir de uma interpretação, das características do objeto analisado. Porém, toda obra foi feita perante um contexto histórico, que deve ser levado em conta durante uma análise crítica. Afinal, a não contextualização do objeto criticado gera uma interpretação deficiente.

Imaginem a página de um pequeno jornal onde está escrito: “Mulher rouba supermercado pela terceira vez”. Para um olhar ignorante ao contexto, a mulher a qual o jornal se refere torna-se uma mera infratora da lei, quando na verdade, é possível que, as próprias circunstâncias anteriores a tenham levado a prática criminosa. Nessa situação, uma avaliação superficial do caso, acaba por gerar uma grave distorção que dá origem a uma injustiça.

Analogamente, ocorre durante a leitura de uma pintura, livro ou construção. Quando se desconhece o contexto em que foram produzidos perdemos fatores de extrema importância para o bom entendimento da obra. Um exemplo mais direto foi o movimento modernista, o qual foi inicialmente muito criticado, uma vez que não era reconhecida a intenção. Neste caso, houve inclusive uma árdua crítica feita por Monteiro Lobato se dirigindo a Anita Malfatti no texto “Paranoia ou Mistificação- a Propósito da exposição Malfatti”, no qual o escritor rebaixa a “escola” modernista. Apesar de tal situação, posteriormente o modernismo foi mais bem reconhecido, pois foram compreendidas as intenções da “escola”. Em suma, toda obra tem um objetivo, uma intenção, um porque que são perdidos quando não é considerado o contexto de produção.

No mais, é importante perceber que esta tal intenção influencia não só a aparência de uma obra, como também os princípios de construção, as técnicas empregadas, os materiais escolhidos, a estrutura utilizada, etc. Por exemplo, há um motivo para a técnica empregada no impressionismo, a qual é explicada pela própria filosofia do movimento de mostrar impressões e não somente a representação perfeccionista da realidade.

Ademais, a intenção sofre influências da geografia e da história. Tal ocorre como uma via mão tripla, na qual os três fatores determinam-se entre si. Em suma, não se pode esperar que o movimento modernista ocorresse no século XVII, que os mesmos materiais fossem aplicados na América do Sul e na Europa, ou que fossem utilizadas hoje as mesmas técnicas inventadas na antiguidade.

Desta maneira, ter ciência histórico-geográfica permite uma maior capacidade de interpretar que tipo de materiais e técnicas estavam disponíveis em certo momento e quais não estavam. Por conseguinte, é possível observar, pelos contrastes, os avanços e mudanças na história, bem como a quebra de paradigmas, mudança de perspectivas, etc. Novamente somos levados a crer na importância do conhecimento histórico na crítica.

Além disso, focando na crítica à arquitetura, o contexto físico o qual se desenvolveu a obra é de especial relevância. Esta ideia está bem posta no trecho: “Ele (o olho humano) se prende a tudo e é atraído pelo centro de gravidade da região inteira. De um só golpe o problema se estende aos arredores. As casas visinhas, a montanha longínqua ou próxima, o horizonte baixo ou alto são massas formidáveis que agem com a potência de seu cubo (...); seu edifício cuba 100 000 metros cúbicos, mas o que está em torno cuba milhões de metros cúbicos, que é o que conta” (“Por uma arquitetura”- Le Corbusier). Ou seja, tão importante quanto o interior de uma obra arquitetônica é o exterior. Tal ocorre pelo fato do externo fazer parte do equilíbrio da obra como todo, seja por questões físicas de insolação, pela gestalt da produção artística em relação à paisagem, pelo sentido dos ventos, etc.

Para exemplificar a lógica anterior, podemos citar a Acrópole de Atenas. Neste caso, há uma APARENTE desordem na planta, como é possível conferir na imagem abaixo. Mas, Le Corbusier, na mesma obra dita anteriormente, esclarece esta situação. Esta escrito: ”O equilíbrio não é mesquinho. É determinado pela paisagem famosa que se estende do Pireu ao Monte Pentélico. O conjunto é concebido para ser visto de longe: os eixos seguem o vale e os ângulos falsos são habilidades do grande cenarista. A Acrópole sobre seu rochedo e seus muros de sustentação é vista de longe, como um bloco. Seus edifícios se concentram na incidência de seus planos múltiplos”. Em suma, a planta possui tal aparência por um motivo, uma lógica que não pode ser despercebida.



Contudo, é necessário atenção ao fato de que a paisagem, por fatoresda geografia, muda com o tempo, bem como as condições físicas de uma obra arquitetônica. Exemplificando, há o desgaste dos materiais e meios, seja por graves acidentes termoclimáticos ou pelo simples intemperismo. Logo, cabe a aquele que está interpretando criticamente considerar esses fatores, para que assim sejam mais claros os esforços aplicados, a grandiosidade e beleza da obra. Tanto é importante esse elemento que hoje temos como grandes referências as obras greco-romanas, mesmo que já muito ruidas pelo tempo.

Como última consideração, para o bom entendimento de uma obra arquitetônica, de acordo com Leon Battista Alberti na obra “De Re Aedificatoria” , devemos ter em vista os seis príncipios da concepção: à região (regio), à área (area), à divisão ou planta (partitio), à parede (paries), à cobertura (tectum) e às aberturas (apertiones). Essa concepção é importante pois Alberti foi quem consolidou a crítica arquitetônica a partir desse primeiro tratado de arquitetura. Porém, é essencial notar que quando ele estabelece a regio não se refere só ao meio físico do local, mas todo o contexto politico-econômico-social que envolve a obra em certo momento histórico. Portanto, desde aquela época já era considerada a história como um fator primordial para a crítica.

Em suma, a crítica arquitetônica é uma atividade de complexidade considerável, em que existem muitas variáveis a serem consideradas de modo simultâneo, como o próprio Alberti estabeleceu. Neste ato, a história possui um papel de destaque, pois muitas de tais variáveis são subordinadas a ela, principalmente no que diz sobre questões ideológicas. Já a geografia necessita de atenção especial no sentido de que é a limitante física da expressão arquitetural. Assim, apesar de uma obra poder emocionar sem necessariamente conhecer-se o contexto de produção, conhecendo-o somos mais capazes de usufruir tudo aquilo que está contido dentro da arquitetura. Portanto, para que uma crítica seja mais justa e correta é preciso o conhecimento histórico-geográfico.

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